“Todos os povos civilizados investigam as suas origens e amam a sua história. Há uma força instintiva que atrai o homem à terra natal, seja ela uma simples aldeia perdida nos vales profundos, nas serras majestosas e altaneiras, ou nas grandes cidades embaladas pelas ondas do mar, onde os requintes do conforto seduzem os ricos e poderosos do mundo”. Artur Monteiro do Couto
VALE DO TUA - Universo virginal de um Reino Maravilhoso
De acordo com o Anúncio nº10853/2010, publicado no Diário da República 2ª série do dia 11 de Novembro, o processo de classificação da linha do Tua como património de interesse nacional foi arquivado, com base num parecer da Secção do Património Arquitectónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura. Desconhece-se a fundamentação do parecer. Presume-se, no entanto, que os senhores conselheiros nunca visitaram a região, pois se a tivessem visitado, enxergariam que este “excesso de natureza”* além de ser do interesse nacional, satisfaz em simultâneos vários dos critérios necessários para a classificação como património da humanidade, e não seria de esperar outra coisa, visto que a linha do Tua desagua na linha do Douro, a escassas centenas de metros do local onde se prevê construir a barragem do Tua, numa área, classificada há mais de 10 anos pela UNESCO, justamente, como Património da Humanidade.
Douro e Tua irmanam-se numa mesma realidade desmesurada, na solenidade da paisagem, num “nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir a céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contrição”, nos costumes, nas crenças, no clima, na rudeza e integridade das gentes. O homem que desbravou os socalcos do Douro é o mesmo que, calço a calço, susteve nesgas de terra, onde estacas de oliveira medram e alumiam a sua árdua existência, cavou os cantos onde laranjeiras perfumam a primavera, construiu uma geia donde brota o néctar que aqui também é vinho fino; é o mesmo que, corajosamente, palmo a palmo, metro a metro rasgou precipícios, transpôs abismos e furou penedos para construir os túneis e assentar os carris que o haviam de ligar ao progresso; é o mesmo que, destemidamente, lavrou um sulco ondulante num despenhadeiro de pedras e laijões, discreta e genuína obra de engenharia, perfeitamente integrada naquele “universo virginal”, naquela “paisagem robusta solene e profunda”, obra conjunta do homem e da natureza, que Miguel Torga sublimemente pintou. Aqui, porém, o degredo é ainda mais espinhoso que no Douro: os murtórios são fragas a pique onde nem as cabras se equilibram, o xisto é granito rude e duro e o rio, selvagem, ainda “corre magoado de cachão em cachão” num zoar permanente que, no Inverno é medonho, mesmo para os mais afoitos.
O vale do Tua, lugar em que homem e natureza se confundem, desde tempos ancestrais, é manifestamente um sítio de beleza natural e estética de excepcional importância, em que a forma genial e harmoniosa como a linha férrea foi integrada na paisagem ilustra a significativa importância que, embora tardiamente, a máquina a vapor e o comboio tiveram na história social e económica de Tras-os-Montes, na metade inicial do século XX. É um sítio em que as pedras evocam memórias longínquas, ainda intactas, de rituais pré-históricos, de povoados visigóticos, mouras encantadas, romanos diligentes e cristãos destemidos.
Por estas e por outras razões, os senhores conselheiros deveriam conhecer ou pelo menos, indagar no local aquilo que importaria conhecer para, serena e sabiamente emitirem o seu douto parecer. Se se tivessem dado ao deleite de visitar este vale e as suas gentes, seguramente, aconchegariam o corpo e a alma e enriqueceriam o ego de sabedorias ancestrais, que é coisa que os senhores conselheiros muito prezam. Mas ainda o podem fazer, depressa, antes que a barragem lhes troque as voltas e lhes aniquile este “universo virginal”. Batam à porta deste “reino maravilhoso” em S. Mamede de Ribatua, saboreiem um naco de bola de carne, acompanhada com as suas afamadas laranjas – de manhã são ouro – visitem o pelourinho e saiam pela ponte romana, contemplem a imponência da paisagem na Penadaia, em que rio, linha e fragas são, ao mesmo tempo, inferno purgatório e paraíso, visitem o caixão dos mouros, os castelos de Safres e dos Barcos, na ténue linha que separava a fronteira entre cristãos e mouros, desçam ao Amieiro, um presépio de casas, oliveiras, laranjeiras e sobreirais, comam e um doce de figos em Carlão, onde nas fragas estão impressos lagares do tempo dos romanos. Depois, atravessem o rio, deliciem-se com um copo de vinho fino, nas margens bucólicas de Brunheda, regenerem o corpo com um banho nas termas de S. Lourenço, deleitem-se com uma alheira estaladiça no Pombal, que é lugar de vinho de primeira e desçam a linha até ao Tua. Apreciem as obras de arte da engenharia oitocentista – viadutos, túneis e muros, suspensos no abismo das fragas más e, mesmo que não tenham a sorte de poderem admirar uma lontra, mirem as nasseiras, onde, antes das barragens do Douro, se apanhavam lampreias, imaginem o gemido das mós, nos moinhos abandonados, inebriem-se com o perfume de carquejas, bela luzes, alecrins e rosmanos que, “como manjericos à janela”, prodigiosamente, brotam de fragas, aparentemente estéreis, e contemplem a majestade dos sobreiros centenários, que, nesta fortaleza de pedras, guardam a linha e o rio. Se tiverem tempo relancem os olhos pelas encostas e, encarrapitados nos abismos descubram antigos armazéns de vinho, abandonados, ainda com lagariça, peso e restos da rabadeira onde encastrava a trave da prensa. Chegados ao Tua, como recompensa, um pratinho de peixes do rio, com pão de Favaios e vinho da Ameda e, claro, mais um cálice de vinho fino, daquele que no estrangeiro apelidam de vinho do Porto, mas que tem berço neste “reino maravilhoso”, prosa de Miguel Torga, de leitura recomendada aos senhores conselheiros.
Por fim, passem pelos adros das igrejas, no fim da missa, e falem, mas, sobretudo, ouçam, ouçam as gentes da terra e então verão que ainda há reinos maravilhosos que merecem ser estudados, conhecidos, acarinhado e preservados: “O que é preciso, para os ver é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração depois não hesite.”
Depois, sim, elaborem o vosso douto parecer.
Texto: João Zimbreiro, com a ajuda de Miguel Torga
Estamos na época das vindimas e, se estiver de férias ou tiver tempo disponível, suba ou desça o Douro de barco, aprecie o Alto Douro, a sua beleza paisagística e patrimonial... a gastronomia e as quintas do Alto Douro.
(Re)veja este documentário da SIC e confira que, de facto, "Ir é o melhor remédio". Trás-os-Montes e Alto Douro é lindo !
Para além de um evento que irá decorrer na FNAC, no dia 25, haverá um almoço de homenagem a Bento da Cruz, Barroso da Fonte e ao Padre Fontes, no dia 27 de Fevereiro (sábado), no Restaurante Quinta Antiga*, no Cacém.
O programa e a ementa, a partir das 12h, são assim:
Entradas: alheira assada e ilharga de vitela grelhada
Prato principal: vitela assada com grelos
Sobremesa: aletria de Barroso e salada de frutas
Queimada das bruxas pelo Padre Fontes e café (produtos exclusivos da região de Barroso)
Animação ao vivo por 2 grupos musicais
Reservas: Carlos Caldas (tlm 919 317 229). Só há lugar para 200 pessoas.
Preço: 20 €
*Morada (B): Estrada Cacém Paço de Arcos, Espaço M - São Marcos (telefone: 214 260 307).
VISITA GUIADA A TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO (3-5 OUTUBRO)
PROGRAMA
Outubro de 2009
1º dia – 3/10 (Sábado):
6,30 h – Partida para Murça.
12,30 h - Almoço no Restaurante do Manel
14,30 h – Visita guiada à cidade, incluindo o castro de Palheiros que remonta ao 3º milénio a.C.
16,30 h – Partida em direccção a Mirandela.
17,00 h - Visita à zona histórica da cidade: Santuário de Nª Srª do Amparo, Igreja da Misericórdia, Palácio dos Távoras, Antigos Paços do Concelho, Palácio dos Condes de Vinhais.
20,00 h – Jantar no restaurante Varandas do Tua seguido de passeio nocturno pela cidade (facultativo).
Dormida no Grande Hotel D. Dinis.
2º dia – 4/10 (Domingo):
9,00 h –Partida em direcção a Macedo de Cavaleiros, com paragem e visita a Jerusalém do Romeu e Aldeia das Rosas .
13,30 h – Almoço no Restaurante Fraga da Pegada na Barragem do Azibo seguido de pequeno descanso para apreciar e disfrutar da beleza do local.
15,00 h – Visita guiada a Macedo de Cavaleiros: Museu de Arte Sacra, solar do Morgado Oliveira e outros pontos históricos com interesse.
17,00 h – Partida para o Convento de Balsamão, que faz parte da Congregação dos Marianos da Imaculada Conceição, onde se respira um ambiente único de tranquilidade serrana.
19,30 h – Jantar no Convento de Balsamão.
Dormida na Casa de Retiro e Repouso do Convento.
3º dia – 5/10 (Segunda):
9,00 h – Partida para Vila Flor. Visita ao Santuário de N.ª Sr.ª da Assunção e visita guiada à Cidade.
12, 30 h - Almoço no Restaurante Quinta do Barracão da Vilariça onde se poderão adquirir queijos de superior qualidade.
14,30 h – Partida para Trancoso e visita a esta bela localidade, uma das 12 Aldeias Históricas de Portugal.
17,30 h – Continuação da viagem de regresso a Lisboa.
Faleceu em Lamego, no passado dia 24 de Janeiro, o nosso ilustre e muito prestigiado associado n.º 1129, Dr. Fernando Monteiro do Amaral. Nascido a 13 de Janeiro de 1925, em Cambres, Lamego, Licenciado em Direito, desempenhou as mais altas e prestigiantes funções de Estado, nomeadamente as de Presidente da Assembleia da República (entre 1984 e 1987), Ministro da Administração Interna e de Ministro Adjunto do Primeiro Ministro tendo, finalmente, assumido o alto cargo de Vice-Presidente do Conselho da Europa.
Nesta breve mas sentida e dolorosa notícia importa-nos realçar sobretudo a amizade que ao longo de cerca de 30 anos sempre dedicou à CTMAD, sendo por exemplo de relembrar o apoio que nos conferiu por ocasião da homenagem prestada ao Prof. Doutor Adriano Moreira em Maio de 2006, durante a qual obsequiosamente proferiu uma memorável oração de elogio e saudação àquela incontornável figura pública de político e estadista.
Guardamos também na nossa Biblioteca um exemplar do livro de sua autoria que oportunamente nos ofertou "Memórias de uma Toga" contendo episódios pitorescos da sua vida de causídico bem reveladores, alguns deles, do espírito lhano e franco do povo transmontano e alto duriense.
São estes pequenos gestos que guardamos em memória de quem de nós se afastou e vimos partir com saudade, um elo inquebrantável, contudo, que fica na história da nossa centenária associação regionalista.